Contaminação ameaça paraíso das cavernas

FSP, Cotidiano, p. C1, C3 - 24/07/2005
Contaminação ameaça paraíso das cavernas
Deslizamento colocou em risco reservatório de rejeitos tóxicos em área de mata atlântica no sul de SP

Afra Balazina

Duzentas e cinqüenta cavernas que contam parte da história geológica do país, remanescentes da floresta atlântica, a mais desmatada do Brasil, e animais em extinção. Esse verdadeiro paraíso natural, o Petar, está ameaçado pela contaminação por chumbo, em Iporanga (302 km de São Paulo).
Uma caixa de contenção que guardava até mil metros cúbicos de rejeitos contendo o metal pode ter sido aberta por um desabamento de terra no final de maio. Apesar dos riscos de o material altamente tóxico ter atingido aqüíferos ou rios, até agora ninguém foi ao local verificar os estragos.
O excesso de chumbo no sangue pode causar problemas neurológicos e renais, entre outros. Em um vilarejo vizinho, moram 600 pessoas. As crianças costumam nadar ali, as famílias comem peixes e turistas praticam bóia-cross.
O Petar (Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira) chega a receber 30 mil turistas ao ano. Mas há tempos está sob ameaça de contaminações. O córrego Furnas, que passa pelo parque, foi contaminado por chumbo por causa da mineração que começou no início do século 20 e foi suspensa há cerca de dez anos.
Esse deslizamento de terra foi tão grande que quatro casas, abandonadas, foram soterradas. Ninguém sabe o motivo do desmoronamento.
Segundo Sidney Maia de Barcelos, 45, gerente da Cetesb de Registro (SP), a agência ambiental exigiu que a empresa mineradora Plumbum tomasse medidas para evitar que a contaminação se ampliasse após o deslizamento.
A proposta da empresa não foi entregue, e um técnico da Cetesb constatou, na sexta, que nada foi feito. Como o prazo já venceu, a Plumbum pode agora ser advertida e multada pela companhia.
Segundo o promotor Marcello de Salles Penteado, 42, já existe uma ação civil pública contra a empresa por danos ambientais. A promotora Tatiana Barreto Serra, 28, instaurou um inquérito para apurar o desmoronamento. "Há um risco, com as chuvas, de a terra assorear o córrego e a água contaminada ir para outros rios importantes", diz.
Ainda não há estudos conclusivos sobre os danos à saúde da população do entorno. Professores da Unicamp coletaram amostras de sangue e de urina de crianças e adultos entre 1999 e 2004 e constataram que eles estão expostos a substâncias nocivas e que é preciso monitorá-los. A quantidade de chumbo no sangue, no entanto, não estava em nível alarmante.
A Direção Regional de Saúde 17 afirmou que verifica, em conjunto com o município de Iporanga, os riscos da contaminação. Foram aplicados questionários aos moradores. Segundo o órgão, porém, o trabalho requer tempo. "A população não está contaminada ainda. Mas precisamos ficar atentos, até para que isso não venha a ser um fator negativo para desenvolver o tão sonhado turismo", diz o prefeito de Iporanga, Ariovaldo Pereira (PMDB).

FSP, 24/072005, Cotidiano, p. C1, C3
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